05 novembro 2012

Crónicas de uma gravidez (34 semanas e 5 dias - Ameaça de parto pré-termo)


No dia 31, fiquei em casa de manhã como habitual para poder descansar as2h combinadas. Tinha marcado na esteticista mas decidi não ir pois sentia-me muito cansada e achei mais prudente ficar a manhã toda em casa a descansar em vez de apenas duas horas. Tinha também dito ao AA no dia anteriro que me estava mesmo a sentir como grávida no fim de tempo e até a minha cara era de grávida na recta final. Claro que ele questionou logo a minha sanidade mental pois isso é coisa que não existe: cara de grávida no fim de tempo e, além disso, eu tinha apenas 34 semanas e uns dias pelo que ainda estavamos longe do fim do tempo.
Continuando no dia 31 de Agosto, lá fui eu trabalhar de tarde. Estive toda a tarde sentada na secretária e lembro-me que foi um dia tranquilo sem stress. Às 17h00 estava eu a caminho da saída e senti-me ligeiramente molhada. Não dei grande importância e continuei a caminhar até ao carro. Quando me sentei ao volante, achei a sensação demasiado estranha e percebi que estava com uma hemorragia.

Liguei imediatamente ao meuobstetra que me tranquilizou e disse que deveria ter sido um vaso sanguíneo que rebentou e que é algo relativamente normal sem consequências mas para me encaminhar para o S. João para ser avaliada. Liguei à minha chefe que ainda estava lá em cima na empresa e pedi-lhe para me levar ao hospital.
500m depois de entrarmos na estrada nacional vemos que vai há nossa frente um colega que mora mesmo junto ao S. João. Então, eu sugeri trocar de carro e ir com ele pois evitava que ela fizesse uma viagem até ao centro do Porto para depois regressar à Póvoa de Varzim. Assim, lá troquei de carro. Acontece que o meu colega tem um MX5 descapotável e foi assim que cheguei à urgência de obstetrícia do S. João. Cheia de estilo. Entretato, o AA também já lá estava à minha espera.

Mal cheguei ao guichet fui logo atendida e disse que estava com 34 semanas e 5 dias de gestação e tinha uma hemorragia. A recepcionista chamou imediatamente a enfermeira e entrei directa. A enfermeira mediu-me as tensões e encaminhou-me para o médico.
Mais uma vez, dentro do azar tive muita sorte pois o médico que estava de serviço era o que me tinha calhado na consulta do S. João. Lá lhe expliquei a situação e ele ficou apreensivo.  Examinou-me e não viu sinais de descolamento da placenta o que era bom sinal. Mandou-me para o CTG e disse que eu iria ficar 1h a ver se tinha contracções.

Ao fim de 20 minutos a enfermeira veio e disse que não tinha contracções e queo Dr. já vinha mandar-me embora. No meio de toda esta confusão fiquei muito nervosa pela primeira vez pois achei que a situação requeria uma mais cuidada avaliação do que uma eco, um CTG e “xau, vai embora”. Só que, o que a enfermeira diz não se escreve e quando me chamou novamente o médico explicou-me que apesar de eu estar sem contracções, não consegui determinar a origem da hemorragia e, portanto, estava com receio que eu entrasse em trabalho de parto. Por isso, eu ía tomar uns comprimidos de 15 em 15 minutos para parar o trabalho de parto caso ele se iniciasse e ía levar uma injecção para amadurecimento dos pulmões do bébé. Esta injecção só faria efeito se eu tomasse outra 24h depois.
E claro, teria que ficar internada pelo menos uns 3 dias. Mas as primeiras horas seriam passadas não no internamento mas na sala de observações da urgência onde ficaria permanentemente monitorizada.

Fiquei mais tranquila com este plano e estava na altura de vir buscar a mala que eu tinha feito questão de preparar no dia anterior (há coisa que não se explicam).
O AA veio a casa buscá-la mas antes passou na mãe para explicar à Mafalda o que se passava. Era dia de aniversário da bisavó e havia festa grande. Ela ouviu, perguntou se eu e o mano estavamos bem e continuou a brincar. Acho que a forma como se expõe as coisas é muito importante e ela reagiu muito bem.

Enquanto foi a casa o AA ainda telefonou para a Cytothera por causa do kit de recolha das céluas estaminais pois ainda não tinhamos tratado disso. Explicou a urgência e eles disseram que vinham entregar a casa o kit passados poucos minutos. Assim foi.
Enquanto isto, eu estava na sala de observações do hospital. Mal entrei para lá vieram dar-me um chá e um pão sem nada pois eram horas de jantar e eu não tinha comido. As enfermeiras e o médico explicaram que era normal ter alguma contracções mas que se estas aumentassem em frequência ou fossem dolorosas para avisar imediatamente.

A certa altura, as contracções começam a ficar pouco espaçadas mas sem dor. Avisei as enfermeiras que já sabiam pois estavam a ver lá dentro. Ao fim de algum tempo comecei a sentir dor e alguma pressão que eu já conhecia do parto da Mafalda. Liguei ao AA e disse-lhe para se apressar pois o Miguel iria nascer nesse dia. Avisei as enfermeiras que sentia dor e passado pouco tempo o médico veio avaliar e verificou que se estava a iniciar a dilatação.
Entretanto, o AA já tinha chegado.

Veio então a anestesista apresentar-se. Explicou-me que só como eu tinha comido só poderia levar epidural ao fim de 6h pelo que se o parto se desenvolve-se antes teria que ser com anestesis geral. Eu então disse-lhe que ía ser com anestesia geral pois tinha a certeza que não demoraria 6h pois parecia estar eminente.
Entretanto, o meu médico vem falar comigo e explica-me que se o bébé nascer terá que ir para a neonatologia pois ainda tem pouco tempo. Mas teve um gesto para me tranquilizar e mais uma vez tive a certeza que foi uma sorte ter sido ele a estar de serviço.

Depois desta intervenção, as contracções começaram a diminuir de frequência e intensidade. Ao fim de 1h estavam já bastante espaçadas e sem dor. Eram cerca de 1h da manhã e estava na hora de ser transferida para o internamento pois a ameaça de parto estava agora controlada. Não fiquei muito contente pois preferia ficar nas observações onde estava monitorizada continuamente e onde podia ter o AA comigo durante toda a noite. Mas tinha que ser.

Antes de subir para o internamento, uma enfermeira passou por mim a comer um pão e a beber um chá e perguntou-me se eu queria. Eu disse que queria mas que não podia pois o médico tinha dito para eu não comer mais nada. Então ela foi falar com o médico e disse que eu podia comer.

Mas era 1h da manhã e já não havia pão... Então, a enfermeira deu-me um pão dos dela e eu fiquei imensamente agradecida.

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