11 fevereiro 2007

A MULHER DECIDE, A SOCIEDADE RESPEITA, O ESTADO GARANTE...

_
Finalmente...

AA
_
PORTUGAL É HOJE UM PAÍS MAIS LIVRE!

06 fevereiro 2007

Mais um... (SIM ou SOPAS)

"Em Democracia, todos temos o direito (apetecia-me dizer ‘o dever de...’) a assumir uma opinião. Como tal, considero tão respeitáveis e válidas as opiniões pelo SIM à despenalização da IVG, como aquelas que, de uma forma coerente e responsável, se batem pelo NÃO.
No entanto, parece-me também que, essa mesma e nem sempre bem tratada democracia, exige que, ao defendermos essa dita opinião, assumamos, em simultâneo, e na totalidade, as consequências da mesma. E é aqui que a firmeza de alguns ‘NÃOs’ começa a vacilar...
Ao defender o SIM, no referendo sobre a despenalização da IVG, assumo sem preconceitos que estou a dizer que as mulheres que decidem interromper a gravidez até às 10 semanas (qualquer que seja a causa dessa opção), não devem ser, de modo algum, penalizadas por isso. Estou também a assumir que essa interrupção pode (apetece-me de novo dizer ‘deve’) ser realizada numa unidade do Serviço Nacional de Saúde (desde que esse seja o desejo da mulher), em perfeitas condições higiénico-sanitárias. Ao assumir isto, autorizo, com certeza, que uma parte dos meus impostos seja gasta para garantir a dignidade das mulheres e resolver um problema premente de saúde pública. Mas assumo também que estou a dar prevalência ao valor da maternidade responsável e desejada, relativamente a um embrião em estágio muito precoce do seu desenvolvimento. Mas se lhe quiserem chamar uma forma de vida, então eu também assumo, de novo sem preconceitos, que privilegio a vida numa forma mais ampla, mais completa, recheada de afectos, sem culpas e sem traumas. Mesmo que aumentem o dramatismo da situação e acrescentem um coração a bater, eu continuo, sem remorsos, a considerar também os outros corações e a afirmar que um coração sem afecto, pode bater, mas não VIVE.
Era esta frontalidade que eu gostaria de ver nos defensores do ‘Não’. Mas, na maioria das intervenções ela não só está ausente, como o que emerge é uma hipocrisia beata, que se quer fazer passar por benfeitora.
Ainda não percebi muito bem: os defensores do ‘Não’, não querem ver as mulheres na cadeia (é uma coisa feia, que não fica nada bem defender...), mas também não querem que se altere a lei?!... Estranho?! Pois..., mas, na cabeça desta gente, não é incompatível... Então o que defendem é assim uma coisa meio cinzenta (e ilegal, já agora), em que a lei – no papel - penaliza (para preservar as nossas consciências, é sempre bom), sujeitando as mulheres a uma pena até 3 anos de prisão, mas depois, nos tribunais – isto é, na prática – deverão existir uns juízes muito bonzinhos, que fecham os olhos à lei, e, de forma caridosa (e se possível deixando uns bons conselhos para orientar a vida dessa mulher perdida), dizem que, afinal, era só para assustar. E, pronto!, depois deste final feliz, as nossas consciências podem de novo dormir descansadas!
Então a estes eu digo: as mulheres (porque assumem os seus deveres) querem ter direitos, não querem caridade!
Caros defensores do ‘Não’, assumam com coerência as vossas legítimas opiniões. Tenham coragem de dizer que para vocês a vida de um embrião é tão relevante, que justifica que uma mulher que interrompe uma gravidez seja julgada em tribunal e cumpra uma pena de prisão, que pode ir até 3 anos!
Eu sei que as vossas consciências não ficarão tão tranquilas, mas, pelo menos, merecerão mais respeito."


in http://venhammaiscinco.blogs.sapo.pt/551.html

01 fevereiro 2007

Aborto - I

_
"Este tema mexe tanto comigo... nem sei por onde começar. Em primeiro lugar acho que ninguém é a favor do aborto. A questão não pode passar por se ser a favor ou contra. Nenhuma mulher (e todas as mulheres o sabem) toma esta decisão de ânimo leve. E por isso acho um disparate o argumento de que o aborto pode tornar-se um método de contracepção. Nunca o será.

Eu acho que não era capaz de abortar. E digo isto porque nunca o fiz. Mas isto sou eu. O meu primeiro impulso é achar que não seria capaz de o fazer, que não quereria fazê-lo, mas sei perfeitamente que sim, que o faria, se me visse numa situação sem alternativa.

Mas esta questão não pode ser discutida partindo destes pontos de vista pessoais e apaixonados. Temos de ser capazes de nos descentrar do nosso umbiguismo. O que me motiva a mim, na minha situação actual e real, não é o mesmo que motiva o vizinho do lado. Compreendo e sou completamente solidária com as mulheres que abortam. Acho que a lei do nosso país é um exemplo do seu monumental atraso em tantas vertentes. Acho uma vergonha ainda serem julgadas no tribunal mulheres que abortaram.

A questão do aborto para mim é essencial, porque mexe com a nossa qualidade humana, com a essência da vida. E a vida, contrariamente ao que muitos pensam, não começa com um aglomerado de células. A vida humana é muito mais do que isso, muito mais do que um corpo a funcionar. Viver não é o mesmo que sobreviver. Há muito tempo já que a nossa espécie deixou de estar apenas ao serviço da sobrevivência pura e dura. O que nos motiva, o que nos faz sentir estar vivos, o que nos anima e nos dá vida é muito mais do que a simples produção do conjunto das nossas células vivas.

E, acerca disto, relembro novamente as palavras de Coimbra de Matos, (..):

"A vida mental do bebé é despertada e animada pelo desejo entusiástico, a paixão dos pais. Se não existir este investimento parental, a mente do bebé não se desenvolve - fica reduzida a uma protomente. O próprio investimento de vida esmorece; é uma sobrevivência apática e abúlica.
Não tendo recebido amor, o indivíduo não vive a experiência fundamental de ser amado. Experiência fundamental e fundadora; sem ela, não há o movimento de expansão a que chamamos mente - a criação contínua. Deveras, ter mente é criar."


(António Coimbra de Matos, Depressividade e Depressão Falhada, publicado em Mais Amor Menos Doença, Climepsi Editores, 2003)

São já sobejamente conhecidas as consequências nefastas para o feto de certos agentes externos, denominados teratogénicos, e que podem comprometer o seu desenvolvimento, tanto no sentido da morte como no da diminuição da qualidade de vida, associada a determinadas deficiências. Tanto, que muitos dos mais arreigados defensores "Pró-Vida" aceitam que o aborto seja praticado nas primeiras semanas, se for comprovado que o feto sofre de alguma mal-formação congénita. Mas há muitos poucos estudos que demonstrem as terríveis consequências para a futura saúde mental do bebé do facto de se nascer sem se ser desejado. O que, quanto a mim, é uma pedra fundamental da questão.Vivemos num mundo ainda muito ligado ao materialismo, ao que é palpável, ao que se vê - o que não se vê é muitas vezes relegado para segundo plano ou mesmo ignorado. Ter trissomia 21 ou sofrer de outra qualquer mal-formação cromossómica é uma razão legalmente aceite para um aborto no nosso país, mas sofrer de falta de amor e desejo dos pais não é. Tavez porque a esfera do sofrimento psíquico não seja visível a olho nú, e as sequelas da alma ainda não sejam encaradas pela comunidade, científica e não científica, com a mesma seriedade que as do corpo. Sabemos que a comunidade científica ligada ao tratamento e acompanhamento destes casos - os psi - há muito tempo que lidam com esta realidade, há muito tempo que a estudam e que lhe reivindicaram um estatuto cientificamente válido, mas a verdade é que essa mesma fatia da comunidade científica ainda não tem força nem poder social e interventivo para, num debate deste tipo, como o é o do aborto, conseguir que a perspectiva unificadora da mente e do corpo seja de facto reconhecida e influencie decisivamente a conceptualização ideológica que rege e determina o poder e a orientação política da sociedade.

Por outras palavras, ainda vivemos na idade média conceptual da dicotomia corpo-mente, em que o primeiro é reconhecidamente o reservatório de todo o sofrimento e mal estar associado à doença e à disfunção. As mal-formações ligadas ao corpo, ao soma, são socialmente reconhecidas como razões válidas para que uma criança não nasça, devido ao sofrimento futuro e à diminuição da qualidade de vida que comportam. Já as mal-formações causadas por estados emocionais e factores afectivos são completamente ignoradas. Não se desejar um filho não é um argumento reconhecido para abortar, é antes encarado como um sinal inequívoco de prevaricação materna, num juízo de valor completamente moralista, como se, pelo facto de se ter relações sexuais, fosse automaticamente obrigatório estar preparada para a maternidade.

Quando a maternidade for uma opção tomada em consciência, talvez tenhamos um mundo melhor. Quando o amor e o respeito pela vida humana forem valores mais altos, talvez o mundo realmente avance. E agora estou a ver uns sorrisinhos irónicos na cara dos que dizem defender a vida opondo-se ao aborto... Sim, é a vida humana que eu defendo! Não, não acho que um conjunto de células se possa chamar de vida humana. E que vida vamos oferecer a esse conjunto de células quando se tornar numa pessoa? É claro que não podemos prever o futuro, mas o facto de não se ser desejado é um factor de risco demasiado relevante. Que, quando conjugado com outros, como a falta de disponibilidade económica, ausência de projectos para o futuro, imaturidade emocional dos pais, isto para dar apenas alguns exemplos, pode ter um resultado explosivo.

E depois acho que os Pró-Vida andam um bocado confundidos das ideias. Porque, ou bem que defendem a vida, e então deveriam defendê-la sempre, ou bem que a não defendem. A vida é um valor demasiado precioso para só se defender às vezes. Será que o filho de uma violação tem menos direito à vida do que outro? Ou um bebé com deficiência cromossómica ou com qualquer tipo de mal-formação? Se é a vida que defendem, e entendendo que a vida começa na concepção, então tenham a coragem de defendê-la em todas as circunstâncias. Sejam coerentes com as vossas ideias.

Mas ainda que eu me identificasse com estes argumentos, o que seria muito difícil, mas tentando fazer esse exercício mental, não entendo como é que se pode ser contra a despenalização. Porque, mesmo que não concordasse com o aborto e o considerasse um acto contra a vida, acho que não seria capaz de fechar os olhos à realidade de milhares de abortos clandestinos, praticados em péssimas condições, que muitas vezes têm como infeliz desfecho a morte de tantas mulheres. O que me confrange mais nas pessoas que são contra a despenalização é a sua hipocrisia e a forma como conseguem ignorar esta realidade. Porque o aborto é uma realidade que mata milhares de mulheres. Mesmo que não concordemos com ele, não o conseguimos impedir. Penalizá-lo é apenas condenar as mulheres a praticá-lo em condições não humanas. Como é que se pode defender a vida de um embrião e fechar os olhos a tantas mortes de vidas de milhares de mulheres?"


In: http://conversandoecomentando.blogspot.com/2006/12/e-finalmente-polmica-o-aborto.html

Faltam-me as palavras...

... para dizer tudo aquilo que gostaria de dizer sobre o aborto...
Por isso, vou tentar pesquisar alguns textos com os quais me identifique e colocá-los aqui no blog.
Porque este é um tema demasiado importante para não ser aqui discutido.